Muita gente me pergunta o que me levou a parar de comer carnes. Se é religião, pena dos animais, doença ou qualquer coisa assim. É engraçado, mas eu nunca sei a resposta.
Eu sei HOJE o porquê de não comer carnes, mas não sei exatamente o que me fez mudar de alimentação há tantos anos atrás.
Então comecei a pensar sobre isso.
Eu sempre fui uma pessoa que comia muita carne, gostava mesmo. Meus pais gostam e fui criada assim. Chegava do colégio e dia sim dia não era churrasco no almoço.
Eu tinha amigos vegetarianos e pra falar a verdade os achava bem esquisitões. Achava que quem não comia carne era zen e deveria morar na montanha.
Embora sentisse quase sempre uma digestão lenta - ou muitas vezes uma má digestão mesmo, não acreditava que o problema todo fosse da carne.
Então, depois de muito tempo o fato de se alimentar de outro animal passou a não ter tanto sentido pra mim, mas mesmo assim eu resisti. Ou melhor, não resisti. Era impensável viver sem churrasco, hambúrguer e salsicha. Sem presunto e peito de peru. Sem Mc Donald’s. Não dava.
Os anos se passaram e um belo dia escolhi testar. Propus-me a ficar uma semana me alimentando de forma diferente. Sem carnes de nenhum tipo. Foi o suficiente.
Aí eu me lembro que senti tudo mudar, como se tivesse ganhado um corpo novo. A pele, os cabelos, a digestão, o sono e até o temperamento. A ansiedade diminui muito e parece que muita coisa começa a se tornar mais aceitável e coerente. Parece-me que foi assim. Bem simples.
Ser simples não significa que não tenha sido fácil. Eu nunca disse que do dia para a noite passei a não gostar do sabor da carne. Lembro perfeitamente que no começo eu resistia feito uma mula teimosa e me sentia um leão perante um cordeirinho quando num churrasco ou coisas parecidas. Como eu disse, eu realmente era uma pessoa que GOSTAVA de carne. E não pense em frango ou um peixe para variar. Meu negócio mesmo era a carne vermelha e sangrando.
Mas eu escolhi viver sem. Escolhi não me alimentar de uma coisa que leva dias para ser eliminado do meu corpo. Que me intoxica e que serve como veneno ao meu corpo. É uma escolha. Não escolhi o sabor, não escolhi ficar numa zona de conforto. Escolhi preservar aquilo que tenho como único. Fiz apenas uma opção.
Uma opção evolutiva de alimentação.
Por dezenas de eras o ser humano precisou da carne para sobreviver já que não havia plantas, frutas, legumes, cereais e hortaliças. Caçar sempre foi mais fácil do que cultivar afinal nossos espelhos eram animais carnívoros e não agricultores. Isso nos salvou, é fato, pois sem a carne poderíamos hoje ser uma espécie extinta por inanição. Porém, é uma idéia errônea atribuir a este fato a nossa evolução e usar isso para justificar o sistema alimentar de uma sociedade extremamente ultrapassada. A nossa evolução foi determinada claro, por uma árdua sobrevivência, mas também pela utilização das mãos na criação de objetos e o consequente desenvolvimento do cérebro.
Infelizmente, não temos um corpo projetado para nos alimentarmos de carne. Não temos acidez estomacal para digeri-la e tampouco um intestino suficientemente curto para eliminá-la quando está em estado de putrefação. Então, meu amigo, entenda que você carrega aquele bife do almoço de domingo por muito mais tempo que deveria.
O nível de pH do ácido clorídrico que os humanos produzem em seus estômagos geralmente se aproxima de 4. Lembre-se: pH 0 = mais ácido, pH 7 = neutro, pH 14 = mais alcalino. O estômago ácido de animais carnívoros têm o pH na faixa de 1. Uma vez que a escala de pH é logarítmica, isto significa que o estômago ácido de um carnívoro é no mínimo 10 vezes mais ácido que o de um ser humano.
O intestino de um carnívoro é curto: geralmente tem de 3 a 6 vezes o comprimento para que possa eliminar os restos dos animais mortos, antes de estarem no processo de putrefação. Os animais herbívoros, em contrapartida, necessitam de um intestino longo para garantir a excelente absorção nutricional dos alimentos ingeridos. Isso significa um intestino com 10 a 12 vezes a medida do próprio comprimento.
Agora vamos lá, sorria. Olhe no espelho e me diga, esse sorriso lembra um tigre ou uma girafa?
Perfeito. Você deve ter reparado que não possui presas e sim dentes largos projetados para triturar alimentos. E não, o teu canino não pode ser comparado ao canino de um carnívoro. Pense bem se você conseguiria sem auxílio de faca, comer uma vaca. Acredito que não.
Como disse desde que criei o blog, o meu intuito não convencer ninguém a nada. Eu mesma fui muito resistente a mudar de alimentação. A idéia aqui é informar e conscientizar o maior número de pessoas sobre algumas realidades. Quando se tem uma sociedade pensante se tem uma sociedade muito mais evoluída e com apurado senso crítico. Eu gosto deste grupo.
Mas voltando a pergunta inicial, acredito que não comer carnes, como qualquer outro tipo de mudança me exigiu uma pesquisa convincente e trabalhosa. Não comer carnes não é simplesmente mudar teu almoço para a macarronada. É saber exatamente a que tipo de espécie você pertence e quão precioso e diferenciado isso pode ser dentro de uma natureza tão complexa e incompreendida.